26/04/2010 - Um espantalho, pelo amor de Deus
O que você quer do milharal? Milho de pamonha, de cural, de pipoca? Pois eu não. Eu quero o espantalho. Um espantalho, pelo amor de Deus, para espantar os corvos que me cercam. Eu quero um espantalho que seja capaz de proteger a minha plantação de sonhos e esperanças. Quero colocar esse espantalho no meu quintal, no meu trabalho, na calçada da minha casa, na minha sala de estar. Melhor, quero levá-lo nos meus ombros, carregá-lo dia e noite afora como arma ou amuleto sagrado. Pelo amor de Deus, um espantalho, por favor.
Que o espantalho espante as más-intenções, as energias negativas, os olhos gordos. Que o homem de palha me livre de todo o engodo dessa gente ruim. Que vendedores, cobradores, profetas de araque, gerentes bancários e outros invasores de privacidade se espantem diante do meu espantalho. Que o espantalho leve as visitas inesperadas para outras estradas. Que o espantalho horrorize a fofoca, o barulho, a folga de quem me avizinha. Que parentes folgados tomem rumo depois de encontrar meu espantalho. Que o espantalho coloque índios e caciques para fora da minha tribo.
Chega dessa gente que se cria comendo o milho alheio. Chega de trabalhar, trabalhar, trabalhar e estar sempre no prejuízo. Pelos alhos e bugalhos, eu preciso de um espantalho. O que tem de corvo agourento voando por aí não é brincadeira. É tanto corvo se dizendo amigo, da família, da mais estrita confiança fazendo besteira. É tanto corvo querendo me levar, junto com todo milharal, no bico. Cadê o espantalho? De preferência, um daqueles mal-assombrados de filme de terror. Um espantalho urgente, pelo amor de Deus.
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