15/03/2011 - Um ano sem herói
Há exatos doze meses, entre a dor e o medo, descobri que heróis também morrem. Há um ano perdi aquele que povoou minha vida com a magia mais pura que se tem notícia – a imaginação. Há um ano perdi aquele que me fez acreditar que um homem pode ter superpoderes como voar, enfrentar exércitos, vencer o tempo. Há um ano perdi aquele que fazia o impossível virar possível num estalar de dedos. Há um ano perdi o herói de fé, de coragem, de força de vontade, de superação... Há um ano o herói, meio bruxo meio guerreiro, depois de 77 anos de luta e fantasia, fez-se adeus.
Ele não tinha capa nem cinto com mil e uma utilidades nem mesmo um carro futurista. Não tinha esconderijo nem dupla identidade. Não tinha foto nos jornais ou um bordão característico. Dos heróis, tinha os poderes, os inimigos e um ponto fraco – era mortal como todos os homens feitos de barro. Enfrentava assombrações desta e de outras dimensões com pinta de galã e gigante coração. Como todo herói habitava um mundo particular, situado entre a realidade e o faz de conta.
Ao longo desses 365 dias tive que me acostumar a não encontrar mais esse herói ao telefone ou no endereço de costume. Há um ano o encontro no espelho, no fundo dos meus olhos verde abacate. Há um ano o encontro em cada trago de uísque. Há um ano o encontro toda vez que avisto uma porteira ou ouço o ronco de um trator. Há um ano o encontro a cada chuva, a cada sementeira, a cada assovio de vento, a cada passo de valsa, a cada ponteio de viola.
Há um ano eu me transformei em um colecionador de lembranças, num caçador de causos, num catador de pedaços. Há um ano, para manter vivo dentro de mim aquele menino que acredita em superheróis, eu bebo de um amor que transcende a condição humana. Há um ano bebo a morte e a saudade do maior dos meus heróis. Há um ano transformo a ferida da ausência em poesia a partir da inspiração heróica dos feitos de Liberato de Lima Barbosa.
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