23/08/2008 - Tutu à mineira
Hoje, vai ter tutu à mineira lá em casa. Ôô compadre, pode sorrir que eu já estou sentindo o cheiro daqui. Eu acho que o tacho está areado só esperando esquentar. Ô mulher, a colher de pau já está espreitando nos dois prosear. E o porco mesmo morto está rosnando para gritar. Antes de a lua apear na beira do rio, eu fui à feira comprar o feijão que o caboclo treteiro bateu no terreiro do seu João. E agora é só esperar minha sinhá mineira chegar pra festa começar. Ela tem feitiço nas mãos e um encanto no andar que a gente se apaixona só de olhar. E ela é toda uai, ara sô! Oncêtá meu amor?
Tão bem ela chega e o sabor é mais que uma cor, é um desejo solto no ar. Ah! Beijo beija-flor. Ah! Ensejo de amor. E do alto da janela, ela amassa o alho com casca no pilão pra cá e pra lá. O alho vai dourando e o bacon se acabando no fundo da panela num casamento perfeito de aroma e furor. E o verde dá cheiro? Dá sim senhor! Com cebolinha e salsinha e até duas folhas de um louro, que além de cheirar espanta o mal-agouro. E a mistura ganha a dona cebola picadinha que fez um homem chorar. Ah! Em outra panela vai fritando a lingüiça calabresa, o paio e o pernil só para judiar. Ôô mineirinha põe mais trem nessa linha e vem namorar.
Ei compadre, chama o padre para perdoar nossa gula e engula o som do caldo do feijão frigindo no tempero que arde no fogão. E olha o que vejo: ela amassando grão a grão num molejo que machuca o coração que vai sangrando a beleza lá do sertão. Ah! Meu senhor, o amor vai engrossando à moda de lá e a minha sinhá cantando uma cantiga de roda para cá. E os ingredientes se encontram no inconsciente da nossa boca e tudo levanta fervura, deixando a mineira faceira louca de ternura e mel. E como quem vai dançar o carimbó, começa sem dó a serenar farinha de mandioca torradinha no meu céu até a mistura desgrudar miudinha da panela. Ah! Olha ela!
Para acabar, olha a couve manteiga picadinha que chega para enfeitar junto com o ovo cozido, o molho de tomate e muito olho cumprido, meufii. Êê passa daqui, sai agora! Que depois do tutu ainda tem bô di`mií! Credeuspai, Nossinhora!
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