Trânsito em transe
Imagine leitor, dormir em uma cidade e acordar sem saber onde está. E não é falta de memória. As casas, as árvores, as ruas seriam as mesmas de ontem. Mas algo estaria fora de lugar. Imagine leitor, sentir-se perdido em lugares que são nossos velhos conhecidos. Talvez eu esteja confuso leitor, mas, em breve, todos nós estaremos entregues à confusão.
A cidade entregue ao caos. Ruas que sobem irão descer, ruas que descem irão subir. Veículos que vão para lá, virão para cá. Carros que param desse lado irão estacionar do outro. Só um lembrete: os motoristas e os pedestres vão ser os mesmos, isto é, nós. Imagine leitor, os mogimirianos vão se sentir estranhos em Mogi-Mirim. Parece enredo de filme, mas não é.
A população terá medo de sair de casa. Medo de não saber para onde ir, onde estacionar, para onde olhar. Medo de ser multado, medo de causar acidentalmente um acidente, medo de ser atropelado. Trânsito não é como o vento que muda a qualquer instante. Querendo ou não admitir, há um costume vigente. Venho no carro e viro para cá. Atravesso a rua e olho para lá. E agora??? Não é fácil apagar esses costumes (reflexos) da memória. Em caso de acidente, quem responde? Falta uma campanha de esclarecimento. Tudo é questão de apreender novamente, mas além de levar tempo, a pergunta é: será realmente necessário? Esta é a chave deste texto: será necessário mudar o trânsito dessa maneira?
Necessário é dar de comer ao povo. Necessário é dar tratamento de saúde decente à população. Necessário é dar segurança à população. Necessário é suprir as necessidades básicas do povo. Necessário é fazer política social para os cidadãos. Se necessidade é um conceito relativo, perdoem-me. Necessário talvez seja fazer uma revolução no trânsito.
Não que eu seja contrário à mudança no trânsito. O que pergunto é: será que a população quer a mudança de trânsito? A população, a meu ver, é o que realmente interessa, e assim, por que não fazer um plebiscito? Estamos num governo democrático, ou não? É fácil fazer democracia: apresenta-se o projeto para a população e ela, então, vota sim ou não. Para desfazer mal entendidos, não quero, com o plebiscito, diminuir o poder do executivo ou do legislativo, quero apenas que a vontade da população seja mantida por seus representantes. Os mais de oitenta mil mogimirianos não podem ser esquecidos.
Não estou sendo catastrófico. Mas a mudança não vai acontecer em uma ou duas ruas quaisquer. A mudança vai ocorrer no "coração" de Mogi-Mirim. Ruas como Ulhôa Cintra, Conde de Parnaíba e Chico Venâncio vão ter seus sentidos alterados. Além disso, o lado de estacionar os veículos muda. E ainda, com a zona azul, ocorre a diminuição do número de vagas. Pergunto: como fica o comércio central de Mogi-Mirim. A alteração no trânsito vai refletir diretamente na movimentação do comércio. A mudança será benéfica ou maléfica para os nossos comerciantes. Alguém quer apostar. O risco é grande.
Queria esclarecer que eu estava na Câmara Municipal quando o projeto foi apresentado aos vereadores e pelas esquinas ouvi reclamações do povo. Como condiz a ética, conheço os dois lados. Quem defende e quem maldiz a mudança. Não escrevo por escrever. Preocupo-me com a cidade. Ocupo esse espaço para tentar não deixar o caos tomar conta de Mogi-Mirim. Preocupa-me a termoelétrica, o Centro de Ressocialização, as indústrias,..., e a mudança no trânsito. Não podemos deixar a cidade ser entregue ao caos.
Então, o que fazer? Em primeiro lugar, leitor, todo cuidado se faz necessário. Cuidado com as novas regras. Em segundo lugar, leitor, não se cale. Acima de qualquer coisa, somos cidadãos. Por enquanto, Mogi-Mirim não foi privatizada. Ela nos pertence. Somos nós que alimentamos essa cidade. Cabe a nós decidir o que é melhor para ela e, por conseguinte, para nós. A nossa tarefa não é só eleger representantes públicos, cabe a nós cobrá-los.
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