Daniel Campos

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13/06/2016 - Todo dia uma semente

Toda manhã, quando acordo, sou semente. Pura e simplesmente, uma semente que precisa encontrar forças dentro de si mesma para dar vida ao que sou. Então eu arrebento a casca e ganho à luz. Eu nasço, eu broto, eu existo. Anteontem fui um jequitibá, ontem fui goiabeira, hoje sou mangueira, amanhã já não sei. Cada dia eu sou algo novo, diferente, mais frágil ou resistente, mais belo ou tímido, mais árvore ou mais gente, mas com a mesma seiva. A minha aparência muda. O meu ângulo de ver o que está ao meu redor muda. As minhas raízes, ora mais fundas ora mais rasas, ora mais ao leste ora mais ao sul, mudam. Somente o que não muda é a minha seiva. Podem me cortar, me ferir, só para me verem sangrar. É seiva.

No decorrer do dia, o que era semente ganha corpo, altura, folhas, galhos, flores e frutos. Ganho também o que está além do meu ser, mas que me completa de diferentes maneiras, como pássaros, roedores, abelhas, pessoas em busca de sombra, de comida, de cura, de um local para curtirem ou até imortalizarem o seu amor. Muitas vezes riscam meu tronco num desenho torto de coração com iniciais de nomes. E, quando é por um sentimento nobre, nem me importo com a dor que isso causa. E mais uma vez, sangro seiva. Muitas vezes me cortam, me derrubam, me queimam. Noutras, colocam um balanço em mim para embalar suas crianças, que riem felizes da vida. Já vi muitas cenas tristes, mas ainda tenho esperança na humanidade.

Ao fim do dia, de uma forma ou de outra, me acabo. E quando acordo, sou, outra vez, pura e simplesmente, semente.


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