29/03/2008 - Tic Tac
O tempo está doente. Diante da gravidade da situação, a equipe médica pediu segredo. No entanto, não posso esconder isso de você, caro leitor. Ele, o tempo, sofre de uma espécie de taquicardia aguda contagiosa. Suas horas, seus minutos, seus segundos batem em ritmo acelerado. Os sintomas são visíveis. Falta tempo para tudo. Pendências e mais pendências assolam nosso cérebro. Sofremos da sensação de um atraso constante. Sol e lua têm encontros freqüentes. O amanhecer e o anoitecer se misturam cada vez mais e tudo se transforma em uma coisa alucinada.
Mal acordamos e os fantasmas de uma rotina estafante já nos assombram. Compromisso importante às 8h, inadiável às 8h03, urgente às 8h07... Tudo é para ontem. E pior, ao final do dia temos a impressão de que não fizemos nada do que era preciso. E isso vai nos angustiando, nos revirando, nos tomando de uma forma que somos obrigados a apelar para um banco de horas-extras hipotético. Daqui a pouco, depois, mais a noite, amanhã eu faço isso, eu cuido daquilo... o problema é que esse tempo-extra não existe para além da nossa imaginação.
O dia passa, a semana passa, o ano passa, a vida passa e somos consumidos por um grande vazio existencial. Afinal, estamos tão preocupados em sobreviver ao tempo que deixamos de viver o próprio tempo. Deixamos nossos prazeres, nossos sonhos, nossos desejos para amanhã. E o amanhã é só mais um dia que vai passar por nós como tantos outros. E isso é ainda mais desesperador quando temos a consciência de que nós deveríamos passar pelo tempo e não ele por nós.
Enquanto o relógio tornou-se uma obsessão, a agenda se transformou na mais furada das promessas. Eles deviam andar juntos, mas a nossa agenda de compromissos cresceu tanto a ponto de estar fora do alcance dos ponteiros. Eis que, em conjunto com o tempo, ficamos doentes também. Como resolver isso? Por hora, não vou discutir possíveis respostas. Vou somente deixar aqui uma questão para que você pense durante esse final de semana: o seu coração faz tum tum ou tic tac?
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