04/11/2013 - Temposição
O tempo, autoritário como um imperador de reinos sem fim, insiste em não pedir licença para passar por nós. O tempo gira, vira, delira o mundo como bem quer. O tempo dá e tira do homem, da mulher, da criança. O tempo é tempestade. O tempo é temporal. O tempo é tempestividade. O tempo é a espera pela bonança que nunca se alcança. O tempo é despudorado, descarado, mal-encarado. O tempo é fadado a nos esvaziar de tempo. O tempo nós dá e nos tira minutos, segundos, horas conforme sua vontade. O tempo fecha e perplexa a terra criando e descriando eras.
O tempo é voraz, tenaz, capataz que tudo corrige, que tudo castiga, que tudo impõe. O tempo nos decompõe ainda vivos. Nossa dívida com o tempo é antiga e permanente. E daí surge uma questão de ordem: como pagar os juros cobrados pele tempo para que ele não nos tire tudo, para que nossa dívida não aumente, para que não tenhamos que nos entregar nosso vôo aos seus ventos e ventanias? A morte é cúmplice do tempo, que já nos matou ao longe de anos e anos de escravidão. Não conseguimos parar de levar nossos olhos aos relógios.
Ao contrário de armas de fogo ou facas, temos ponteiros apontados contra nós. Ponteiros que ferem, que envenenam, que condenam, que apequenam nossa existência. Se não fossemos tão preso ao dia a dia, ao cotidiano, ao status temporal, poderíamos viver com um prazer nunca dantes vivido. O tempo nos leva à falência, à incoerência, à inconsciência do que poderíamos ter sido e não fomos. O tempo se coloca no papel de deus e quer que o adoremos de qualquer jeito, a torto ou a direito. O tempo nos promete a eternidade e nos entrega saudade.
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