03/08/2012 - Tempo em falta
Hoje, estar sem tempo é normal, lugar comum, óbvio. Luta-se, com unhas e dentes, para não se perder tempo, quando se devia lutar para não se perder do tempo. Aliás, a ordem é ganhar tempo a qualquer custo. Afinal, tempo é dinheiro. O tempo é pai do estresse, da pressão, do suicídio. Vivemos o tempo da aflição. Um tempo frenético e sem freio, desmedido e feio. Tempo de ter mais, de ser mais, de saber mais. A falta de tempo gera indiferença e desprezo generalizados. A falta de tempo pari o silêncio, a revolta, o cansaço, o apocalipse.
Não há tempo para viver o tempo em função do outro. Não há tempo para visitar um amigo doente, para consolar quem sofre de amor, para comemorar a vitória alheia. Não há tempo para se solidarizar com a dor ou com a alegria do outro. Não há tempo mais para um “bom dia” ou para um “oi, como vai”. Não há tempo para criar ou aprofundar relações. Não há tempo para existir enquanto ser social. Não há tempo para sentir todos os gostos de um determinado alimento, para visualizar todas as cores do nascer do sol, para explorar o perfume das frutas e flores da estação.
Não há tempo para dedicar uma atenção especial ou sequer satisfatória a outra pessoa por mais próxima que ela seja.Não há tempo para tentar compreender o amor. Não há tempo para viver o macro, tampouco o micro da vida. Não há tempo para escutar o que as 24 horas do dia têm para dizer. Não há tempo para viver ou morrer como se deve. Não há tempo para celebrar o sentimento. Não há tempo para buscar contato com seres que vivem em outros planos. Não há tempo para pensar a razão da guerra. Não há tempo para mudar a realidade. Não há tempo para decretar o amor incondicional ao mundo ou, ao menos, para quem está ao seu lado.
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