Daniel Campos

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17/01/2015 - Sua metade

Eu tenho seu corpo perfeito e nítido entranhado em minhas retinas, assim como sua voz segue presa aos meus ouvidos. Guardo mesmo sem querer cada um dos seus gemidos, os de sofrimento e os mais comovidos de prazer. Não sei se é justo ou não, porém, mesmo ainda viva, sua silhueta ficou para mim, em mim e por mim. Tenho o cálice da sua boca derramando em meus lábios até o presente momento. Pelos labirintos das minhas narinas brincam seus cheiros encantados. Tenho suas costas tatuadas pela imagem do seu rosto aflito e sofrido pelo fato de eu lhe ter dado as costas. Suas lágrimas ainda ardem em mim. E a culpa pelo que não fiz é a pior das minhas tormentas. Minhas mãos teimam em buscar suas músicas, seus cabelos, seus cuidados... Eu nasço sempre que uma lembrança sua vem à tona; e são tantas, mais que tantas a ponto de ter me transformado em uma maternidade ambulante. A saudade invade meus quartos enquanto eu, eternamente partido, assumo-me metade, a sua metade...


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