14/10/2011 - Sopro de mulher
A mulher amada é como o vento que sopra sobre a cidade. Ora acalanta ora destrói o mundo alheio, quando não até o próprio. É um vento carregado de anteontem querendo, a todo custo, alcançar o futuro nem que para isso precise passar por nós ou nos levar com ela, em seus redemoinhos. Ora traz chuva ora alimenta o fogo ora seca o orvalho. Ninguém sabe que hora vai chegar ou que hora vai partir. Ora é uma rajada fria ora um alimento quente.
A única certeza é de que ninguém a prende entre os dedos ou num quarto escuro. Ela sempre parte à solta. Cavalga por nuvens ou pelo éter do infinito. É contínua. Quando quer traz ciscos aos olhos ou os enxuga de qualquer lágrima. Carrega luas, balões, polens e poeiras em seus braços. Passa entre espinhos sem se machucar. Entra em todos os ambientes, espalha todos os segredos, semeia os mais variados perfumes e uma leva de desastres.
A mulher amada embaralha o vôo dos passarinhos, o horário dos aviões, as palavras soltas no ar. Muda o ritmo das coisas internas e externas. É uma frente atlântica encontrando uma contrafrente pacífica no meio da rua. Folhas de árvores e de cadernos e de livros ficam completamente reviradas diante dessa mulher. Muda a direção dos rios, a roupa de homens e mulheres, a textura do tempo, e, até mesmo, a cor e as cores do dia ou da noite.
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