Daniel Campos

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16/10/2011 - Sons da noite

Quando a noite cai, sussurros e urros chegam cegos aos nossos ouvidos. Mensagens urgentes trançam pernas no escuro, tropeçam em declarações antigas. Tudo se mistura, tudo se confunde e se funde na noite escura. São tantos sons se procriando na noite. São gemidos abraçados, versos alados, refrões casados, vozes do presente, do futuro e do passado no mesmo espaço. Sons cardíacos, viscerais, animais. Sons que atravessam paredes, corpos, dimensões.

Quando tudo se aquieta, a noite cai em sinfonia. O que a noite toca, vira música. As rezadeiras cochicham orações. Até mesmo a lua chega a cantar em vibrações que só alcançam os mais apaixonados ouvidos. São grilos, besouros, corujas, pirilampos, ratos e outras criaturas se expressando verbalmente, cada qual a sua maneira. Isso sem falar das almas penadas que ao contrário de arrastar correntes, colocam a conversa em dia. Durante a noite, as línguas se amam sonoramente.

Os seresteiros seguem pelas ruas à procura de suas janelas. Os bêbados cantam nas mesas de bar ou abraçados com postes. As mães entoam canções de ninar para os filhos. Amantes trocam juras, farpas, instintos. As crianças choram com medo disso e daquilo. Isso sem falar nos gritos daquelas que acordam de um pesadelo. São suspiros e grunhidos se cruzando pelas esquinas da escuridão. Até as sombras emitem sons, que em nada lembram os que elas sombreiam.


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