Daniel Campos

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16/04/2008 - Sol, camelos e cometas

O sol o chicoteava com labaredas de suor. Como resultado de um ódio passional, seu rosto é colorido entre o vermelho e o vinho comum às maçãs argentinas. A camisa colava em seu corpo na aderência de um adesivo. Não havia árvores ou marquises para produzir alguns metros de sombra. O sol, mais pesado do que de costume, aproximava-se da crosta terrestre da sua cabeça.

Os pensamentos fritavam num óleo de neurônios. Tudo era confuso. Tudo era vertigem. Tudo era um bafo quente vindo de seus próprios pulmões. A pressão subia e o sangue entrava em ebulição. As piscinas, os rios, os mares... todos estavam longe de seu alcance. Nem um copo de água ou um picolé de uva atravessavam seu caminho na loucura de uma miragem. Ele estava sozinho naquele mundo caliente.

Enquanto as pernas latejavam de calor, os pés tinham bolhas de água e bolhas de sangue. E tudo isso dificultava sua caminhada. Sonhava com um boneco de neve ou uma chuva de granizo. Ah! Queria abraçar a criatura de neve e nadar por entre as pedras de gelo. A cada passo, seus sonhos eram mais e mais absurdos.

Sem agüentar mais, caiu. Desmanchou-se em um pedaço de carne ao sol. A pele ardia. O corpo gritava. Uma hemorragia de suor o aproximava da morte. Quem sabe, ao menos, a morte o dominasse com um sentimento gélido. Ah! O sol o abocanhava com línguas de fogo. Os sentidos já iam longe, para lá do Atacama, do Saara, de Gobi.

De repente, seu corpo é embebido por uma água de pétalas. O choque térmico provoca tremores. Uma mulher, de olhos descobertos, coloca-o na corcova de um camelo e o carrega pelas trilhas de um deserto sem começo e sem final. Entre tempestades de areia e saqueadores, ela o beija com sua boca caqui, derramando-se sobre ele em feitio de oásis. Furioso e traído por aquela estrela, o sol explodiu em milhares de cometas.


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