Daniel Campos

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25/07/2008 - Sobe, sobe, sobe...

Os juros sobem e ponto final. A inflação sobe e explode em uma dor de cabeça descomunal. A fome sobe pela goela dos famintos. A desconfiança sobe pelos pensamentos de quem sobrevive. O mal estar sobe pelas galerias. A insatisfação sobe pelas paredes. O ibope do presidente sobe dia após dia. As dívidas sobem para tudo quanto é lado. O feijão sobe e se divorcia da feijoada. O boi sobe e desaparece dos churrascos. O leite sobe e esvazia das mamadeiras. A comida sobe e some dos pratos. A fila dos desesperados sobe às estrelas.

A gasolina, a passagem de ônibus e o pedágio sobem e já há uma legião andando a pé. A mão pesada do estado sobe e desce pelos nossos bolsos em busca de cada migalha. O real sobe e sufoca os sonhos. Os lucros dos donos do país sobem sem se lembrar de que existe uma nação aqui embaixo. O choro sobe pela garganta. A audiência da insegurança sobe na novela da vida cotidiana. As contas sobem numa mais que completa falta de limite. Uma queimação sobe pela corrente sanguínea rumo a um infarto sideral. A dúzia de ovo sobe e as galinhas continuam comendo de grão em grão. A carne suína sobe e os porcos continuam na lama.

O valor da aposta sobe e a esperança de ganhar na loteria agoniza. A violência sobe e assusta geral. A podridão sobe pelo ladrão. O mal sobe no ranking dos mais consumidos. A corrupção sobe pelos colarinhos já nem tão brancos assim. A luz sobe e as casas ficam no escuro. O aluguel sobe e os viadutos ficam mais concorridos. O gás sobe e a lenha volta a queimar no fogão. O trigo sobe e o pão é um luxo francês. A cesta sobe e deixa de ser básica. O telefone sobe e a língua fica em silêncio. A locomotiva do medo sobe pelos trilhos da nossa cabeça e ameaça descarrilar. O custo de vida sobe a tal ponto que a morte já pode ser paga em prestações. Os juros sobem e ponto final.


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