Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
Sete saudades

Noite. Não me pergunte por onde andava a lua. Havia quem dissesse que ela se despregara do céu. Havia quem dissesse que se atirara ao mar. Havia quem dissesse que chorava num quarto, inteiramente, escuro. Eu preferia não dizer nada.

A noite nos lustres. Quantos os sonhos daquelas estrelas artificiais. Os anjos, os santos, os deuses. As vozes tristes de um coral que sorria. A voz lenta e grave que enchia o ambiente. Um homem vestido de branco. Os enfeites, as flores. Talvez fossem sete flores, cada qual na sua cor, no seu perfume, no seu texto. Sete vozes, cada qual no seu ritmo, no seu tom, no seu corpo. Sete lustres, sete mil lâmpadas, sete milhões de sonhos. Sete vinhos, sete uvas, sete sabores. Sete mãos, sete colheitas. Sete pães, sete trigos, sete ceifas.

E eram quantas as juras. E eram quantos os consolos. E seria tão bom se fossem apenas sete dores. Eram sete músicas, sete palavras, sete vontades de continuar. Eram sete rezas. Eram sete crenças. Eram sete loucuras e sete amarguras. E agora, vê-se que a falta era sete vezes maior. E não era dia sete, ano terminado em sete, não era julho, não eram sete horas. Era apenas a sétima noite.

Onde andava a sétima lua? Ninguém sabia. Eram sete lenços e sete promessas de amanhã. Eram sete abraços. Eram muito mais do que sete os universos do amor. Eram sete ventos, cada qual com seu gosto. Eram sete silêncios, um mais quieto que o outro. Eram sete pássaros em sete vôos distintos. Eram sete luzes. Eram sete consolos. Eram sete os rosários. Eram sete velas, sete chamas, sete brilhos. Eram sete saudades.

Eram sete caminhos que se davam num só. Eram sete lembranças que juravam eternidade. Eram sete mistérios que se davam em outros tantos mistérios. Eram sete as vontades de ver tudo acabado. Eram sete as vontades que o destino fosse diferente. Eram sete vigílias. Eram sete despedidas, sete partidas, sete adeuses. E por mais que fosse a sétima noite, a vida ainda, para todo o contentamento, mostrava-se infinita, sem números definidos. E a noite se acabaria em sete abraços. E a lua? A lua se escondia naqueles olhos que eram berço de sete belezas. Sete belezas divididas entre sete tristezas e sete saudades.


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar