03/09/2013 - Sequidão
Tudo o que o tempo podia sugar, sugou. Sem piedade. O verde ficou amarelado, apastelado, amarronzado. Nem as ervas daninhas resistiram e tombaram. As sementes secaram antes mesmo de se transformarem em brotos. Fósseis de vidas sem vida espalhados pelo chão. Os ossos das costelas do cachorro furaram a carne. A mina, a fonte, a nascente secaram. A cachoeira virou pedra. Não condeno a confusão entre tempo e medusa, pois ao olhar direto para eles tudo é petrificado.
As lágrimas secaram armazenando dentro dos olhos a tristeza. Os corpos secaram, emagrecendo, com fome e dor. Carcaças de gado espalhadas pelo caminho. E as flores murcharam antes mesmo da floração. Ao contrário de nuvens de chuva, nuvens de pó. Na boca, o gosto infértil da poeira. Tosse, catarro, vómitos de seca. Os rios minguaram, secaram, trincaram. Os peixes se acabaram na lama podre. E a velha senhora morreu entre espinhos tentando salvar seu jardim de rosas.
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