Daniel Campos

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16/06/2011 - Sentimento binário

A paixão mal acabara de cair e os olhares se encheram de uma saudade infinda. Saudade de um amor sem cansaço ou pressa. De um amor que não pega avião ou faz download, mas que anda a pé admirando jardins, vitrines e fachadas. Um amor que não faz vendaval, mas que flutua numa brisa tão leve que nem o suspiro se atreve a interrompê-la. Um amor que se permite imaginar e se deixa levar pela imaginação. Um amor com cheiro de pele e que não se esconde ou se ausenta, mas que fica à flor da pele.

Um amor que não envelhece ou empalidece, que não dobra os joelhos diante da tristeza, que não se autodestrói. Um amor que não é prematuro ou tardio, mas que tem seu tempo certo, mesmo que arredio. Foi esse amor que trouxe à tona uma saudade cortante. Um sentimento verdadeiro, mesmo que toda essa verdade lhe faça sentir apartado desse mundo cão. Um amor de substância, de constância, de infância. Um amor capaz de se dividir em zilhões de partículas de esperança. Um amor adulto com espírito de criança.

Ah! Era esse amor que eu queria ver brotar ao cair da paixão. Um amor que sabe por que ou para quê existir ou continuar. Um amor de opinião, relevante à vida ou ao mundo. Um amor sem medo, sem indiferença, sem discriminação. Um amor com ares de profecia. Um amor que dilata o peito e que cala toda e qualquer forma de solidão. Um amor passional, fraternal, visceral. Um amor denso como um coração poeta. Um amor que alarga o passo para acompanhar o ritmo do sonho e não se aquieta. Um amor tão necessário como um vôo ao entardecer.

Um amor nascido, crescido e vivido nas fendas da paixão.


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