Daniel Campos

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05/12/2008 - Sentimentaria

Lordose cervical, lordose lombar, cifose dorsal, escoliose, hérnia de disco, bico de papagaio. A coluna entorta, enverga, dobra, pende e se rende em dor. Dói ao andar, ao deitar, ao falar, ao espreguiçar, ao sonhar... Dores agudas, pontudas, obtusas. E a culpa de tudo isso é do mundo, que anda cada dia mais pesado de se carregar. Tenho apenas uma coluna e todo o sentimento do mundo a se debruçar sobre ela, não é Drummond? Pois é poeta, como eu posso carregar tanto amor nestas costas finas, esquálidas? Se ao menos eu soubesse equilibrar latas na cabeça como as lavadeiras... Ou se eu tivesse asas para conseguir voar acima disso todo.

Problemas, quase-poemas, preocupações, atormentações, despautérios, cemitérios, desesperos, destemperos, desejos, ensejos, aflições, corações, agonia, verborragia, concretos, vetos, ilusões, falsas canções, dores, desamores, tempestades, esperanças com hemorragia, tranças de fantasia, pencas de pesadelos, atropelos, prantos, acalantos de saudade, rotinas da realidade... Drummond, Drummond, o mundo que temos de carregar está obeso demais e, no mais, a soma que resulta da equação da vida cotidiana pesa demais sobre nossos ombros e acaba com qualquer coluna. Exceto se eu fosse um homem-formiga a carregar 50 vezes o meu peso.

A força-peso me empurra verticalmente ao chão, fazendo valer a lei da gravidade. As pernas ficam bambas. O corpo guerreia contra si próprio. A coluna range, tange caminho oposto ao pensamento e estala, fala, grita e praticamente se quebra, numa arqueação tão bonita quão aflita. Ah! Quem sabe se eu não lutasse mais contra esse peso e caísse ao chão, aos pés dessa sentimentaria, e, vencido pelo mundo, pudesse ser ignorado, ou perdoado ou poupado a ponto de poder voltar a engatinhar, feito criança, cuja coluna só conhece um desvio - a cambalhota.


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