Daniel Campos

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19/04/2008 - Sementes de trigo

"Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto." Passei a semana toda com essa passagem bíblica na minha cabeça. Esse texto fez parte da homilia que fechou o período Pascal da igreja católica. A idéia é a de que a semente (Jesus) que é colocada no seio da terra, rompe com todas as barreiras da morte e trás vida nova.

Saindo da igreja e caindo na realidade, ouso dizer, caro leitor, que é preciso um sacrifício, uma doação, uma entrega maior do que a ciência pode explicar pra que possamos conhecer e viver uma vida nova. Não quero, com este humilde texto, dizer que é necessário que nos matemos ou deixemo-nos morrer para ganhar esse novo mundo. Jesus morreu para viver esse milagre, mas cabe a nós morrer simbolicamente.

Precisamos deixar esse individualismo que nos cerca para que possamos colher e gerar alguns frutos. De que adianta nós vivermos trancados por muros, grades, vidros blindados? De que adianta nos esconder com medo de viver? De que adianta sermos uma semente guardada em uma embalagem plástica? De que adianta existirmos como sementes se não caímos na terra?

Ora, ora. Como parte de um projeto maior, precisamos semear alguma coisa. Tenho consciência de que a realidade é um solo duro, uma terra difícil de ser cultiva. Mas precisamos preparar esse solo, arando-o diariamente com os sulcos dos nossos sentimentos; gradeando-o com os discos de nossas atitudes positivas; adubando-o com nossos sonhos. Depois dessa terra pronta, precisamos nos entregar a ela (entenda: entregar-se a uma causa) e nos sacrificar por ela.

Mas alguém deve se perguntar: e o livre arbítrio? Eu posso escolher em ser ou não semente? Pois bem, temos o papel de escolher se somos trigo ou pedra. O trigo, aparentemente, é frágil, pequeno, breve. A pedra é forte, onipotente, eterna. Mas se plantarmos uma lavoura de pedra o que nascerá dela? Ora, leitor, nós somos trigo por natureza. Basta aceitar a nossa missão, o nosso destino.

Ou cumprimos o nosso destino como semente ou estamos condenados a viver sozinhos. Sozinhos com a nossa solidão, com o nosso vazio existencial; com o nosso egoísmo, com o nosso fracasso, com o nosso abandono, com a nossa vida inútil e improdutiva, com o nosso coração petrificado. Além do mais, vale dizer que sozinho, somos só uma semente. Juntos, somos uma plantação.


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