08/02/2013 - Sem, sem você
Sem você, o buquê fica joga num canto. Sem você, o violão, sem porquê, fica surdo e mudo, sem sentido, sem mi bemol, sem fá sustenido. Sem você, o sol fica sem lua. Sem você, a rua fica sem esquina. Sem você, a mulher fica sem a menina que brinca dentro dela. Sem você, o coração fica sem janela para olhar, para pular, para cometer loucura. Sem você, a vida não passa de um livro sem figuras. Sem você, a bailarina da caixa de música ao rodopiar sente tontura. Sem você, ninguém se acha. Sem você, a cidade fica sem praça, sem movimento, sem se encontrar no mapa. Sem você, a igreja fica sem papa. Sem você, o mundo fica sem sentimento. Sem você, a nuvem fica à deriva num céu sem vento.
Sem você, o trem fica sem trilho. Sem você, a barriga fica sem filho. Sem você, não há o que se fazer. Sem você, “sofre” é o único verbo a se conjugar. Sem você, a lei que versa sobre o ato de amar perde seus princípios mais elementares. Sem você, o salto alto fica sem pé nem cabeça. Sem você, os apaixonados ficam sem seus pares. Sem você, os bêbados ficam sem bares. Sem você, o santo fica sem fé. Sem você o lado fica sem seu outro lado. Sem você, o rebolado perde o reboliço. Sem você, a vida perde o viço. Sem você, a provação perde o tom de enguiço. Sem você, tudo fica sem um quê. Sem você, há uma vontade generalizada de sumir, de desaparecer. Sem você, só me resta, aliás, só nos resta, morrer.
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