Daniel Campos

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Sem saída

Sem saída. Eis o estado que define a mulher que nem se valera do último amor nem se livrara dele. O último romance não foi o suficiente para fazê-la feliz e era mais do que suficiente para impedi-la de se apaixonar novamente. Ora parecia querer amar de novo ora queria reviver o caso mal resolvido. Queria voar outros céus, beijar outras bocas, entregar-se a outras entregas, mas não tinha coragem de trair o que não conseguia chamar de passado.

Não acreditava mais naquele amor, mas não o desacreditava. Não sabia por onde sair. Pedia conselhos à mãe, à irmã, aos amigos mais próximos, mas tudo girava dentro da sua cabeça e ela não chegava a lugar algum. Na verdade, o que ela mais queria é que ele terminasse esse pseudo-namoro. Ela ficaria com raiva, num choro só, mas depois poderia re-começar, tentar de novo com outro alguém. Afinal, não gostava de ficar sozinha. E isso era o que mais lhe incomodava. Aquele velho ditado ? antes só do que mal acompanhada ? não fazia o menor sentido para ela.

Queria alguém para dividir o assunto da faculdade, do estágio, da nutricionista, do apartamento, da academia, da última ou da próxima festa. Queria estar junto fisicamente. Não suportava andar sozinha no shopping. Toda a poesia do amor não bastava, queria contato concreto. Não queria viver de encontros escassos. Queria estar junto a todo instante. Queria os subúrbios de um relacionamento, com prazeres e brigas. E assim ficava sem saber o que fazer. Seus olhares publicitários pareciam não criar nenhuma alternativa. Ficava à espera.

Barra da calça dobrada para fora, sapato colorido, cabelo preso e todo um sotaque que ia além de sua voz e caia em seu corpo, em suas atitudes, em seus gestos. Mas isso não bastava. Era preciso que ela proclamasse em suas entranhas uma nova inconfidência mineira. Que invocasse Joaquim José da Silva Xavier. Que seu passado fosse enforcado, mas que ela pudesse respirar novamente sem se sentir sufocada por um relacionamento vegetativo. Ah! Queria ser a Marília de um Dirceu. Queria ser a Julieta de um Romeu.

Queria se apaixonar loucamente e enlouquecer de paixão, mas seu jeito e seus trejeitos não permitiam isso. Era certinha demais. Era bobinha demais. Tudo para ela era um trem de outro mundo. Dias e mais dias se passavam naqueles trens e ela continuava na mesma rua de sempre. Uma rua sem saída.


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