Daniel Campos

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04/08/2011 - Sem defesa

Cansei de me defender. Assumo a covardia como estilo. Nunca fui um valente. Jamais briguei por mim ou por quem quer que seja. Sempre me escondi. Sempre me esquivei. Não me importei em cair tantas vezes. Cheguei até a me fingir de morto. Apanhei muito sem revidar. Não sou dado a gestos heróicos. Tornei-me insensível a injustiça particular e alheia. Se possível, passo invisível pelas confusões, pelos canhões, pelos arpões, pelos grilhões, pelos turbilhões...

Não defendo a minha vida, o meu casamento, os meus filhos, o meu cachorro. Não defendo os meus ideais, tampouco as minhas ideias. Não defendo a minha comida, a minha casa, o meu salário. Não defendo as luas que me cobrem, os deuses que me rogam, os desejos que me habitam Não defendo a cachaça que engulo, o suor que derramo, a boca que beijo. Não defendo minha cara amarrada, minha amada, minha ladra, minha jornada, minha invernada...

Tenho muito e ao mesmo tempo nada para defender. Não sou capaz de defender minhas lembranças. Não consigo defender minhas dúvidas. Não sou digno de defender meus arrependimentos. Eu, de fato, nunca me defendi. Não me defendo das músicas altas, das conversas fiadas, das mulheres com corações de lata. Não me defendo do silêncio, da solidão, da ilusão. Não me defendo dos lábios de carmim, dos olhares de cetim, das palavras de festim, de tudo que jaz em mim...


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