Daniel Campos

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06/08/2009 - Saudade de Marilene nº 1

Sentir saudade é ter uma faca apontada para o pescoço. Entre o passado e o presente, qualquer movimento mais brusco pode ser fatal. A vida com saudade é extremamente vinculada ao tempo presente. O que passou virou saudade e o que virá não aumenta nem diminui a saudade. Por isso, a saudade é permanente, afiada e corta mais do que faca de açougueiro. Pode pedir, pode suplicar, pode ajoelhar, pode rezar, pode chorar, pode negociar com o destino, com a vida, com o tempo, com os deuses... chova ou faça sol, a faca continuará roçando seu pescoço. Não é à toa que dizem que saudade mata. E eu já estou quase morrendo.

Marilene, por onde anda você? Eu hoje não velejei em seus olhos oceanos. Eu hoje não me deitei em sua boca de pano. Eu hoje não me tatuei em seu corpo de tons de piano. Eu hoje não amanheci. Aliás, eu acho que hoje somente morri. Eu hoje ainda não me encontrei. Aliás, acho que há dias eu me deixei em suas mãos. Ai, onde estão as suas mãos que não me pegam, que não me carregam, que não me levam a ti? Ai, onde estão as suas mãos de papel que não me acariciam, que não me extasiam, que não me irradiam um pouco do seu céu?

Eu quero, eu preciso, eu desejo ouvir a sua voz, ao menos mais uma vez. Eu não me agüento longe de você. Longe eu sou feriada aberta sem ungüento. Longe eu sou mais um desses finais sangrentos. Longe falta tudo, falta mundo, falta alento. Ah! Marilene, por onde anda você? O amor é um esmerilho a afiar a faca da saudade que coloca vida e morte, lado a lado, nas fiadas do meu pescoço. A saudade é abstrata e dói em carne e osso. A saudade é uma queda livre que me leva ao fundo do poço.

Ah! Marilene, se depois de tantas quedas e facadas, eu ainda puder me acabar em seu dorso...


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