Registro civil
- Em que posso ajudar?
- Eu queria registrar meu filho.
- Você é o pai?
- Sou sim senhor?
- Parabéns, mas não me parece muito contente.
- É... Eu tenho dó dele.
- Desculpe-me, mas ele tem algum problema, não é sadio?
- Tem não seu moço. É um menino forte, encorpado, lindo.
- Então?
- Eu tenho pena é do futuro dele. Agora que ele tá mamando tá tudo bem, mas daqui um tempo a mué fica sem leite e ele já vai começar a chorá de fome. Sabe, eu tenho um empreguinho, mas é coisa pouca, depois com o tempo, já vai precisá de remédio, médico, brinquedo, roupa e essas coisas todas. Depois não sei se ele vai conseguir estudo, se vai arranjá emprego, se vai tê onde morar, se vai tê dinheiro para sustentá seu filho...
- Mas o senhor está pensando muito longe?
- Eu sei do futuro.
- Sabe?
- Sei porque já fui esse passado.
- Bem... Vamos ao que interessa.
- Sim senhor.
- Nome da criança?
- Ainda não pensei nisso.
- Hora do nascimento?
- Já faz um tempinho, não tenho relógio.
- Foi na maternidade local?
- Não, lá em casa mesmo, chamei uma parteira conhecida minha.
- O nome completo dos avós?
- Não me lembro, sumi no mundo já faz um bom tempo.
- Testemunhas?
- Eu sei que não devia, que ainda não era hora, mas sou inocente!
- Nacionalidade da criança?
- Posso lhe falar ao pé do ouvido?
- Fique a vontade.
- Será que...?
- Não!!!
- Então, já que não tem jeito mesmo, põe aí: brasileiro.
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