06/03/2012 - Quero perder
Cansei de ganhar, agora quero perder. Quero perder a cabeça por entre as estrelas, perder o rumo na trilha da mulher amada, perder a noção do tempo jogando fora todo e qualquer relógio. Quero perder o passo num intervalo de tango, perder o tom imitando pássaros, perder a lógica num número irracional. Quero perder a fala numa boca recheada de silêncio, perder o horizonte ao abrir as asas, perder a consciência ao me entregar ao sonho.
Quero perder peso para caminhar flutuando em direção à lua rapunzel, perder o destino nas malhas das parcas, perder o riso na explosão do pranto. Quero perder a saudade a cada reencontro, perder a oportunidade de voltar atrás, perder a imagem que é um fardo para a memória. Quero perder o medo de não ter medo, perder a combinação dos segredos públicos e privados que carrego comigo, perder a crença no possível para crer apenas no impossível.
Quero perder o foco para enxergar além das aparências, perder o trem para prosseguir a pé, perder o fim para prosseguir no meio do processo. Quero perder as marcas de nascença em prol das marcas de crescimento e amadurecimento, perder as digitais para não ser identificado, perder o endereço de casa para morar em qualquer lugar. Quero perder a realidade para cair nos braços da imaginação, da ficção, da fantasia nua e bruta.
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