05/09/2008 - Que se chamava Alfredo
Vai indo longe lá vai o tempo do ceifador, que passa pelos campos de trigo ceifando o dourado amor. Sob seu corte, a flor do pão nasce depois da morte. Sob seu corte, o sangue de seu consorte. Sob seu corte, um passo firme e forte. Sob seu corte, a fé moldada em recorte. Sob seu corte, o caminho segue para o norte. Sob seu corte, ser primavera ou inverno é uma questão de sorte. Sob seu corte, o entrecorte do horizonte que vai indo longe lá vai...
Corte a corte, o ceifador vai ponteando as horas de um vento que chora a dor de não poder levar à frente as sementes do alvorecer. No meio do trigo, o ceifador encontra abrigo. Com a tinta do trigo, o ceifador escreve seu artigo. Na solidão do trigo, o ceifador encontra seu castigo. No cair do trigo, o ceifador é um desejo antigo. No dourar do trigo, o ceifador espreita o perigo. Com sete pés de trigo, o ceifador faz seu jazigo e vai indo longe lá vai...
Vai indo longe lá vai o ceifador que, ao ceifar a flor do sol, só tem medo da chuva chegar mais cedo, no mais que completo segredo. No desassossego, seus braços são colhedeiras. Sob seu passo, o trigo vai descendo corredeiras de solo e medo. E nos laços do homem com a terra, o passaredo vai no compasso do sanhaço que se chamava Alfredo. Vai indo longe lá vai o canto do ceifador, que passa pelos campos de trigo voando nas asas do cantor.
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