Daniel Campos

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30/01/2010 - Que pena, velho, que pena...

O velho já não me conhece mais, já não fala coisa com coisa nem sabe quanto tempo faz. O velho se esqueceu da própria rua, já não decifra mais a lua e pouco importa se a terra se levanta seca ou com orvalho. Do trabalho ao torresmo, o velho deixou a esmo tudo o que mais gostava só pelo medo de ficar a sós consigo mesmo. O velho se esqueceu dos velhos tempos e hoje passa pequenino, maltratado e sem carinho porque optou por um desvio em seu caminho.

Ao mesmo tempo em que quer viver mais e demais, o velho que deu pra beber pede para morrer logo mais. O velho não sabe se ama ou se odeia o coração, se é época de colheita ou de plantação. O velho apostou que a intensidade de um novo romance poderia superar a nuance de um amor que ficou e perdeu. O velho perdeu as rédeas e vai de queda em queda, com febre adolescente e choro de menino carente nos olhos quase cegos de paixão intermitente.

O velho ignorou o cansaço, pensou que era de aço e deu um passo mais largo do que o corpo poderia suportar. O velho, a essa altura da vida, inventou de amar sem medida sem ao menos saber amar. O velho sério, bravo de fato, agora é feito de gato e sapato sem nem saber por que. Inventa desculpas para atitudes malucas confundindo estar lelé da cuca com dores na nuca e acha que ainda tem cura e diz que ninguém o segura.

O velho já não me conhece mais e não há nada a fazer: ou ele se esqueceu de quem era ou assumiu quem fingia não ser.


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