Daniel Campos

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16/09/2011 - Quando eu era pequeno

Quando eu era pequeno, não me lembro. Quando eu era pequeno, sonhava em morar na lua. Quando eu era pequeno, tinha medo de crescer. Quando eu era pequeno, empinava sonhos. Quando eu era pequeno, zombava da morte. Quando eu era pequeno, acreditava que as bruxas não eram capazes de sair dos livros. Quando eu era pequeno, acendia vagalumes como quem acende abajures antes de dormir.

Quando eu era pequeno, me vestia de chuva. Quando eu era pequeno, sentia-me protegido por anjos sem rosto. Quando eu era pequeno, ficava invisível. Quando eu era pequeno, queria ser muitos em um só. Quando eu era pequeno, era parte de uma espécie de mitologia particular. Quando eu era pequeno, era íntimo dos senhores da imaginação. Quando eu era pequeno, meus silêncios tinham outro som.

Quando eu era pequeno, me diluía na paisagem. Quando eu era pequeno, tinha pés de vento. Quando eu era pequeno, brincava com o destino. Quando eu era pequeno, vivia de graça. Quando eu era pequeno, meus heróis não entravam em conflito. Quando eu era pequeno, me comunicava por telepatia. Quando eu era pequeno, sabia onde queria chegar. Quando eu era pequeno, flutuava em mim.

Quando eu era pequeno, não tinha pouso fixo. Quando eu era pequeno, o mundo já era grande e dramático. Quando eu era pequeno, a intensidade das coisas me redimensionava. Quando eu era pequeno, alcançava diversos estágios mentais. Quando eu era pequeno, tinha um platonismo afiado. Quando eu era pequeno, era metade real metade delírio. Quando eu era pequeno, não cabia em nenhuma definição formal.

Quando eu era pequeno, todos os cenários eram possíveis. Quando eu era pequeno, amanhã era um tempo longínquo. Quando eu era pequeno, não existiam limites ou absurdos. Quando eu era pequeno, não me perdia tanto. Quando eu era pequeno, era adultamente incompreensível. Quando eu era pequeno, contava histórias ainda não vividas. Quando eu era pequeno, eu era semente de um eu hoje tão ausente.


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