27/12/2010 - Procura-se um conto
Há quem procure amores num banco de praça; bandidos por meio de cartazes e lugares em mapas geográficos e astrológicos. No entanto, eu, brasileiro, casado, profissão escritor, procuro por um texto. Um texto desaparecido, seqüestrado, roubado. Da última vez que o vi ele estava na tela do meu computador, bem guardado em uma pasta com segredo. Estava bem, ainda precisando de uma ou outra correção, mas praticamente acabado no que diz respeito à criação. Na verdade era um conto, mas não qualquer conto e sim um conto de fadas sobre uma menina que tinha pupilas coloridas.
Um conto de quinze páginas que se passava num reino distante. Tinha um rei malvado, uma madrasta cega de amor, um dragão que não sabia voar e uma menina com nome de estrela, ou melhor, de uma constelação. Pyxis. E como tal, tinha por natureza brilhar e embelezar o mundo ao seu redor e, por conseqüência, a história. Como todo conto de fadas que se preze depois de muito sofrimento nasce outro tempo para muitos personagens. Um tempo baseado na felicidade, no amor e na paz. No entanto, fora da história o final desse conto não foi nada feliz. Antes mesmo dos últimos retoques ele desapareceu por completo sem deixar rastros ou adeuses.
Fui roubado! Eis o sentimento e o grito que se espalhou. Procura daqui e dali e nada. Chame os romanos, os vikings, a escolta armada. Na delegacia, o policial pensou que eu era louco e por pouco não me prendeu por desacato. Contratei um detetive particular que conseguiu tirar mais dinheiro do meu bolso do que pistas do caso. Apelei para as redes sociais, mas só consegui piadas e trotes. E o terapeuta queria me convencer de que esse conto jamais existiu e que tudo não passou de invenção da minha cabeça. Esgotada as esperanças de reencontrá-lo tentei reconstruí-lo, mas ainda falta algo que não sei bem o que é. Só sei que falta. E por isso decidi rasgar as reproduções.
Só me resta torcer para que o conto consiga se safar e volte para casa pelas mãos de uma princesa ou pela boca de um dragão.
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