15/05/2015 - Pernas ao inverno
Como garça na Antártica, ela caminha com suas pernas desnudas pelo chão de inverno, entre o vento e o relento. Muitas passam de casacos e cachecóis, com botas, peles e lãs. São texturas e pesos fazendo moda. Porém, ela vem de shortinho e sandália de dedo como se estivesse no verão, entre as areias da mais quente estação. Dizem que ela é exibida, aparecida, convencida, mas ela nem é assim desinibida. Surge num rosto corado de frio como que de rouge, mas com as pernas rosadas, entre a palidez da lua e o douro dos trigais das estradas. Desperta desejos daqueles que dariam a vida para cobrir aquela pele lisa e aromática de beijos e ensejos. Caminha sem se importar se é olhada, mas sabe que desde que fechou a porta de casa vem sendo devorada. Entre uma ave rara e uma égua nunca celada ela avança pelas ruas, como que nua, como que quem dança, como quem faz arte e é inocentada por ser criança. Já era bem crescida, mas ainda bem-vinda numa ingenuidade de infância, numa ânsia de malícia, como que um flerte no meio da santa missa. Vem com short curto causando espanto, encanto, susto e quebranto. Vem deixando o mundo louco, largando os gritos roucos, querendo ser pouco sendo tanto. Diante de suas pernas, o frio do inverno se aperta.
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