31/10/2012 - Periquito na goiabeira
Na beira da ladeira, o periquito na goiabeira faz estardalhaço. Azul, verde, amarelo, ora tem asas ora tem braços. Equilibrista de penas, artista da canção, faz do bico sua mão. Ginga para cá, balança para lá, segura ali, volteia aqui. Periquito guarani, fala tupi e tem olhos de organdi. Periquito que não dá bola pra colibri, sabiá, bem-te-vi... Periquito, periquiteiro, periquitiá. Se lambuza do vermelho de uma goiaba que nunca acaba. Enrosca no cabelo da mulher, e vai jogando ao chão as sementes à moda de um bem-me-quer malmequer. Periquito assanhado, que barulha em feitio de namorado. Periquito artista, que pelas folhas da goiabeira vai fugindo das nossas vistas. Periquito que fala estralado, do zóio de ametista.
“Periquito bonito”, diz a menina que tem os olhos tão negros como São Benedito. O periquito parece ser feito de aço, não quebra nunca. Periquito passista que, mesmo de ponta cabeça, não perde o passo. Periquito ê, Periquito â, dança, que eu quero lhe ver dançar. Periquito que corteja sua donzela do alto da goiabeira. Periquito iluminado de sol. Sol de goiaba amarela, canta, canta, canta na dobra da minha janela. Periquito que chama como chama da vela de Nossa Senhora da Conceição. Periquito, canção alada, tela em movimento, tagarela sem qualquer tramela. Periquito que se arrepia ao vento de uma mulher e fala a língua do sentimento. Periquito que não dá trela as coisas dos homens e se mantém como sentinela do seu coração de ar.
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