Daniel Campos

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08/11/2009 - Perestroika

É hora de reconstruir. Abrir o guarda-roupa e reconstruir um visual. Abrir o portão e reconstruir uma estrada. Abrir a gaveta e reconstruir um achado, um perdido. Hora de reconstruir a leitura de um livro que há tempos foi abandonado na prateleira. Hora de reconstruir um tempo perdido, um verso bandido, um solo de um sol sustenido que deixou de brilhar. E que nessas reconstruções não falte mão de obra. E que nessas reconstruções ache todos os materiais necessários e desnecessários também. E que nessas reconstruções permita-se inovar.

Perestroika dizem todos. Perestroika. É momento de reconstruir sua imagem diante do espelho. É momento de reconstruir o rebento que um dia pariu. É momento de reconstruir o vento que chegou a lamber seus cabelos. Pode dobrar os joelhos e pedir para um Deus reconstruir você. Pode levantar os olhos e sonhar com sua reconstrução. Pode erguer sua espada e exigir que todos os seus sonhos partidos sejam reconstruídos o mais rápido possível pelos reconstrutores de fantasias e alegorias do desejo. Pode subir, cair, sucumbir, sorrir, fingir, grunhir... Porém, é preciso se reconstruir.

Reconstrua suas palavras e seu modo de falar. Reconstrua suas intenções e seu modo de pensar. Reconstrua seus gestos e seus doces prediletos. Reconstrua sua cidade perdida, sua obra proibida. Reconstrua sua paz e sua guerra. Reconstrua seus amigos imaginários e seus centros gravitacionais. Reconstrua suas fronteiras e tudo aquilo que um dia classificou ou deixou classificarem como bobagem, besteira. Reconstrua cenários e personagens que já lhe habitaram. Reconstrua futuro, presente, passado. Reconstrua a rua, a nua e, até mesmo, a lua que lhe lança luares entre olhares.

Perestroika dizem todos. Perestroika.

Observação do autor: Perestroika (Reconstrução, em russo) foi uma das políticas introduzidas na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas por Mikhail Gorbatchev, em 1985.


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