Daniel Campos

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14/07/2011 - Pedaços, buracos, vazios...

Era como se lhe faltasse um pedaço. Ele tinha dois braços, duas pernas, um nariz, uma boca. Parecia completo. No entanto, só parecia. Levava um vazio no peito. Tinha uma esposa, filhos, parentes, amigos. Trabalhava no que gostava e viajava pelo mundo. Mas isso não era suficiente. Faltava algo que ele não sabia explicar. Talvez um perdão. Mas ele não fazia mal a ninguém e também não guardava rancor. Era difícil roubar-lhe a paciência, o sono, o sorriso.

No entanto, seu sorriso tinha sempre um pontinho amarelo. Faltava-lhe algo. Mas como? Casou-se com a mulher pela qual é perdidamente apaixonado desde a juventude. Mora na casa que construiu do seu jeito, no lugar que queria. Tem a coleção completa dos Beatles e todos os sonetos de Shakespeare. Como o que tem vontade, bebe até se dar por satisfeito, fuma quando lhe dá na telha. Conta com uma quantia gorda em sua conta bancária e é motivo de inveja.

Os filhos lhe davam valor, os empregados lhe respeitavam, os cachorros abanavam o rabo quando lhe viam. Seu jardim sempre tinha alguma coisa florindo, assim como seu céu tinha sempre um sol se abrindo. As videntes sempre lhe falavam maravilhas sobre seu futuro. Os últimos exames médicos lhe deram uma saúde de ferro. Mas sempre assim sentia falta de algo. Uma saudade, uma falta, uma incompletude difícil de compreender, de aceitar, de conviver.

Com isso, ia vivendo de forma desesperada tentando buscar o pedaço que faltava. Chegava a chorar a falta desse “quê” desconhecido. Será que tudo isso era real ou não passava de uma ilusão, que alimentava mais e mais na ânsia de criar obstáculos à felicidade plena. Esse vazio era fruto de uma espécie de trauma, de medo, de pesadelo. Quanto mais ele tentava preencher o buraco, mais fundo ele ficava, chegando a ferir a alma, tirando-a, de fato, um ou mais pedaços.


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