Daniel Campos

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05/03/2009 - Pães de queijo de Rosa e Drummond

Eram pelo menos trinta pães de queijo se acotovelando em uma travessa. Na verdade, mini-pães num amarelo de sol de inverno, quentes de forno, aflorando água nas pedras que se incrustam pela boca. Pães de queijo cheirando a pães de queijo. Um aroma legítimo. O perfume não era de congelados, empacotados, embalados, guardados, conservados e outros "ados". Á primeira vista, não havia nada de artificialismo nesses pequenos.

Depois da crosta rachada, como os leitos de um São Francisco em época de estiagem braba, o anúncio, explícito, do queijo derretido. Queijo minas. E não era qualquer minas, mas Minas de Guimarães Rosa. Imagine o leite vindo das vaquinhas espalhadas pelos grandes sertões e veredas. Imagine aqueles personagens mágicos espremendo o queijo com as próprias mãos. Este é o pão de queijo que se oferece despudoradamente belo e timidamente mineiro bem diante dos meus olhos.

Parecem inofensivos, mas provocam desejos arrebatadores. Além da visão, do olfato e do paladar, os pães de queijo eram audíveis. Eles cantavam os tambores de minas. Um som a Milton Nascimento. Diante deles, os trilhos de um tempo distante. E ao mordê-lo, pego esse trem que chega à estação da boca da mulher amada. Uma boca tão poética quão as prosas do Drummond das Minas.


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