08/08/2011 - Oração da segunda-feira
Que os deuses do clarão me tirem das sombras nessas manhãs de segunda-feira. Manhãs frias e vazias, propícias aos desejos de não, de não me queira bem. Que os deuses da estrada alongada me permitam ir além do parapeito da minha sacada. Que eu possa subir por escadas imaginárias e me vestir com a indumentária do céu. Não falo do céu dos anjos ou dos santos, mas do céu das estrelas que existem para além dos calendários e da fraqueza humana que se agrava a cada nova segunda-feira.
Que os deuses do deserto me transformem novamente em feto, para eu nascer em um tempo distante desta segunda-feira. Um tempo sem preguiça, sem mau-humor, sem canseira, sem pré-julgamento, sem dor, sem fantasmas, sem pavor. Que os deuses do ne me quitte pas me façam aceitar cada ponto, cada vírgula, cada linha, cada pausa que venham a cair sobre mim ou em meu caminho nesta segunda-feira. Que eu saiba lidar com as interrogações, com os tempos verbais, espirituais e carnais.
Que os deuses da auto-ajuda me encorajem a encarar minha segunda-feira como ela é, foi, será. Tudo o que eu peço aos deuses do controverso é que eu sobreviva a esse dia repleto de ais sem me iludir ou me ferir ainda mais. Que os deuses do absurdo ajam no intuito de impedir que as incertezas, a falta de belezas, as durezas e as impurezas da segunda-feira não me oprimam a ponto de eu perder a fé – a fé nas terças, nas quartas, nas quintas, nas sextas-feiras...
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