Daniel Campos

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15/12/2008 - Ora bolas

Bola de chiclete. Bola de boliche. Bola do globo ocular, do lustre da sala de estar. Bola de entorpecente. Bola de mamona. Bola de lua cheia. Bola de meia. Bola de botão. Bola de bolinha. Bola de bilhar. Bola de golfe. Bola de bolo alimentar. Bola de embolada. Bola de basebol, de futebol, de basquetebol, de voleibol, de frescobol, de handbol. Bola chutada, arremessada, lançada, acertada, soprada por alguém. Bola de sabão, boiando no céu, transparente e inocente, desafiando o mundo num sopro de ilusão.

São casas, jardins, quintais pairando no reflexo da bola de sabão, que vai desviando de carros, cigarros, lábios e espinhos. Ela vai subindo lentamente pelos caminhos de concreto, de sonho e pedra, como um balão de gás. E quando chega o vento sudoeste, olha ela, contrariando a solidez da vida, ganhando céu, contrariando o céu, absorvendo e sorvendo no céu. Se ainda fosse de chiclete ou de boliche, mas é de sabão. E quantos os sorrisos que ela captura pelo caminho em sua célula de ar?

Furta-cor, fruta-cor, mundo a nascer e a se pôr. O mundo a quer, mas ninguém pode tocá-la. Ela não se aprisiona, mas faz dos olhares seus prisioneiros. Ela passa, suspira e enrola a morte, inventa um outro tempo e gira pedindo um sopro, um pouco mais de corpo. E quando encontra uma outra bola de sabão, por algum milagre, se une a ela numa arquitetura surreal, e, como o amor, não tem explicação. Definitivamente, a vida segue em bolas, ora bolas.


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