Daniel Campos

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19/02/2010 - Olha a rotina aí gente!

Cadê a pintura do rosto? A lágrima borrou. Cadê a fantasia? A enxurrada levou. Cadê a alegria? A quarta de cinzas findou. Cadê a poesia? O tempo rasgou. Cadê o sol? A noite apagou. Cadê o amor? O bicho devorou. Cadê o romance? O bicho tragou. Cadê a mulher? O bicho matou.

Que bicho é esse, José? É o bicho do dia depois de outro dia. De onde vem esse bicho, João? Ele nasce quando a ilusão se quebra ou é quebrada. Ai, meu Deus, é bom botar o pé na estrada pra fugir desse bicho que não sossega enquanto não deixa a gente doente de cotidiano. Cuidado com a mordida da rotina.

Depois do carnaval, a rotina fica mais forte. Depois do carnaval, a rotina mostra os dentes. Depois do carnaval, a rotina nos empurra pra frente. Depois do carnaval, tudo volta ao normal. E essa coisa de normal, normalidade, normalmente é extremamente nociva ao sonhador.

E é por isso que é preciso ter braços para remar o sonho, ò remador. E é por isso que é preciso ter braços para pescar o novo, ò pescador. E é por isso que é preciso ter braços para virar o mundo de pernas pro ar, de ódio ou amor. O carnaval parou no meio deixando a vida perdida (partida) no meio do campo de centeio.


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