07/05/2010 - Ode ao torresmo
Os que estão de dieta que me perdoem, mas o torresmo aparece em minha vida como inspiração poética. Ou seria tentação? Aquele torresmo pequeno, crocante, que estala na boca deveria ter um item específico na lista dos pecados capitais. Afinal, vai da gula à vaidade e da luxúria à avareza em poucos segundos diante de uma travessa. Quem diria que da barriga do porco surgiria algo tão atrativo aos sentidos humanos. Difícil resistir. Não é à toa que, em matéria de torresmo, assumo-me pecador.
Lembro de minha avó retalhando o toucinho e fritando-o em duas etapas. Aquela gordura borbulhando, estourando em feitio de pipoca. O perigo e o desejo na mesma panela. Depois de fritada, eis o momento do milagre do pururucação. Como era bom degustar aquela camada crocante de pele sobre um pedaço de carne ainda úmida e macia. E saber que aqueles porcos eram caipiras, criados por meu avô com todo zelo, fazia do torresmo algo ainda mais saboroso. No entanto, esses dois se foram.
Hoje eu me aventuro na cozinha em busca da fórmula perdida de minha avó, mesmo sabendo que os porcos nunca terão o mesmo gosto daqueles do sítio. Vez ou outra eu acerto, por alguma interferência dos céus, no ponto desta iguaria divinamente caipira. Em outras vezes, contento-me com torresminhos de algum restaurante mineiro. Mas o que ficou mesmo foi uma saudade daqueles minutos mágicos de “ploc-ploc” que se ouvia na casa número 71 da rua São Miguel.
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