Daniel Campos

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01/08/2008 - O governo perde a voz

No dicionário da música, a expressão "a voz" é sinônimo de ninguém menos do que Frank Sinatra. Coincidências à parte, às vésperas do filho do astro norte-americano apresentar seu show em Brasília, o governo brasileiro perde a sua voz mais afinada. Gilberto Gil pediu demissão. O baiano suportou seis anos de Ministério da Cultura, lutando pela arte popular. Depois de sucessivas tentativas de se afastar, Gil deu o veredicto final. Por mais que Lula queira, ele não voltará para o bis.

Os palcos agradecem, mas como ficará o gogó do governo? Sem dúvida alguma, Gilberto Gil tinha a melhor voz da Esplanada dos Ministérios. No entanto, foi uma das que menos ecoaram nestes anos todos. Gostando ou não, a voz enrouquecida de Lula e a voz sisuda de Dilma Roussef são atualmente as que mais chegam aos ouvidos do público brasileiro. Para compor o trio de tenores do poder, eis que surge o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Embora seja o mais tímido, ele é responsável por um dos principais acordes, o Fi. Dó Ré Mi Fá Sol Lá Fi... Fi? Financeiro! Cantando em politiquês e economês, essas vozes estão longe da poesia de Gilberto Gil.

A situação é preocupante. Mas quem poderia entrar para o posto de Gil? Creio que Caetano Veloso e Chico Buarque não estão nada interessados em compor com a escala musical do governo. Será que Lula vai aderir à moda e convocar alguém do funk ou do axé para soltar a voz Ministério afora? Se a escolha for valorizar a prata da casa, o governo pode apostar em Eduardo Suplicy. Afinal, ele está acostumado a incorporar um Bob Dylan na tribuna do Senado. No entanto, o discurso de Suplicy foge das rédeas do governo. A verdade é que Lula vai continuar dando o tom. E, com ritmo ou não, quem quiser um lugarzinho no governo vai ter que cantar com ele. Haja ouvidos!


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