Daniel Campos

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03/11/2008 - O gosto amargo de 1989

Há títulos que custam muito suor, muito talento, muita determinação, muita ousadia e muito dinheiro. No caso da decisão do campeonato de F-1, que vestiu de verde, amarelo e vermelho o circuito de Interlagos, as cifras roncaram tão alto quão os antigos motores V12 da Ferrari. Eu acompanho esta modalidade esportiva desde as primeiras corridas de Ayrton Senna e posso afirmar, com certeza, que algo não cheirou bem na última do GP Brasil. E esse fedor não foi de borracha queimada ou de motor estourado.

É, no mínimo, muito estranho o alemão Timo Glock ter jogado a toalha a 500m da bandeirada. Para nós, caminhantes, parece muito. Mas para os corredores da F-1 essa distância é irrisória. Ele estava indo bem nas voltas chuvosas anteriores, inclusive na parte mais complicada do circuito. É curioso que ele tenha decidido tirar o pé do acelerador na Junção, que é uma curva sem muito segredo. E por que ele só desacelerou quando a matemática do campeonato desfavoreceu o inglês? Pois foi esse ato muito suspeito que acabou decidindo o campeonato a favor de Lewis Hamilton.

Os comentaristas da Rede Globo podem dizer o que quiser, porque eu não engulo essa história. O tempo da F-1 romântica acabou há um bom tempo. Um telefonema dos boxes da poderosa Mclaren para o manda-chuva da coadjuvante Toyota pode ter sido o fator decisivo para deixar Massa com um sorriso amarelo no alto do pódio. É uma pena que o campeonato tenha sido decidido fora da pista. Ao contrário de champanhe, o gosto amargo de 1989, quando os cartolas tiraram o título de Senna e entregaram de bandeja a Prost, voltou à boca.


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