Daniel Campos

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25/11/2009 - O caçador de nuvens

João, o caçador de nuvens. Era assim que gostava de ser chamado. Corria de lá pra cá, de frente pra trás, de cima abaixo buscando nuvens. Gostava desde as transparentes até as negras, fartas de água. Vivia observando as movimentações, os contornos e preenchimentos desses conjuntos de partículas suspensas. Adorava dias nublados. Vibrava quando uma nuvem conseguia cobrir sol ou lua. Torcia pelas nuvens como quem torce por um time de futebol.

Se não bastasse essa estranha paixão, dava munição à boca do povo ao sair de casa com uma cestinha daquelas de apanhar borboletas. Gritava pelas ruas que estava aberta a temporada de caça às nuvens. Enquanto seus amigos se dedicavam à pescaria, João sonhava em cavalgar em uma nuvem. Subia em árvores, em montanhas, em edifícios tentando realizar o sonho. Mas sabia que o único jeito de encontrá-las era pegar um avião. Faltava-lhe apenas dinheiro pra viabilizar a aventura.

Para João, caçando nuvens, a chance de encontrar anjos, santos e, até mesmo, deus era enorme. Afinal, todo o celestial vive sob nuvens. Não vê Nossa Senhora que tem um monte de nuvenzinhas aos seus pés? Pois é, o caçador dizia às multidões que ele já havia capturado algumas nuvens, no entanto, elas escaparam no decorrer do caminho. Para os mais íntimos, confessava que havia libertado propositalmente as caças. Para ele, diante do espelho, afirmava que tudo aquilo não passava de uma forma de fugir da própria solidão.

A solidão de um céu azul sem uma nuvenzinha sequer.


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