12/12/2012 - No que transformaram a Justiça...
O que aconteceu com a Justiça? A deusa que atende pelo nome de Thêmis na Grécia e pelo nome de Justitia em Roma vem sendo descaracterizada em sua natureza, perdendo suas feições, suas virtudes, suas atitudes, sua história, sua alma. Thêmis, a filha de Gaia e Urano, segunda mulher de Zeus, está em perigo. Na mitologia grega a Justiça e a Ética são inseparáveis, já na mitologia brasileira...
Até o século retrasado a Justiça era representada como uma mulher em pé, de espada em riste, de olhos abertos e com uma balança nas mãos. Em frente ao palácio do Supremo Tribunal Federal, a Justiça está sentada em um trono, de olhos vendados e com a espada pousada em seu colo. Sentada por descaso ou por cansaço? Por quem a Justiça levanta? Por quanto a Justiça levanta?
A nossa Justiça ganhou vendas nos olhos. Thêmis tinha os olhos descobertos e de longo alcance, abertos a tudo e a todos. A deusa grega não tinha nem sobrancelhas, nem cílios, nem pálpebras porque ela não dormia e enxergava tanto na luz quanto no escuro. Como a Justiça vai atacar ou defender estando sentada, cega e com a espada deitada em seu colo?
Na representação original, Thêmis trazia uma balança em suas mãos, sempre acima da espada, simbolizando que a força da Justiça se curvava às leis universais. No Brasil, pais de dois pesos e duas medidas, a balança da deusa foi furtada em nome de interesses escusos. E para completar a esculhambação, a Justiça, que vestia-se de branco para representar a pureza e que não mostrava suas partes íntimas porque era imaculada, foi despida de roupa e pudor como alegoria de carnaval.
Enquanto os gregos representaram Thêmis numa constelação, hoje conhecida como Libra, os brasileiros transformam a vida da deusa em um inferno nos noticiários políticos e policiais. A Justiça é mãe de divindades como as Horas, aprofundando a relação entre Justiça e Tempo. No entanto, a imagem da Justiça brasileira em frente ao Supremo não indica maternidade ou feminilidade alguma, apenas uma criatura desumanizada, solitária e soberana, uma ilha.
Atenção Ricardo Lewandowski, nós não queremos uma Justiça com a espada abaixada, sem poder, sem efetividade, sem capacidade de se impor. Olha Dias Toffoli, nós não merecemos uma justiça que fique com os seios à mostra para ser usada conforme a vontade de cada um. Alô Rosa Weber, nós não precisamos de uma Justiça sentada, passiva, indiferente. Que Joaquim Barbosa resgate Thêmis, que Joaquim Barbosa salve Justitia...
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