12/02/2014 - No cio
No cio, a gata é só arrepio. O desejo corre solto por seu corpo no volume de um rio. A noite é sua, assim como o dia e tudo mais que ela quiser. Ela é felina. Ela é demônia. Ela é mulher. Todos lhe seguem com segundas intenções e perseguem-lhe com férteis imaginações enquanto ela brinca com sua caça. Miados e mais miados a disputam, havendo luta por seu sexo. Os olhos da gata no cio são vazios de qualquer compaixão, pois quer fazer valer sua paixão a qualquer preço, sem dar explicação ou se dar à razão. Por isso, nada de tentar conquistar uma gata no cio. Nessa situação, só se pode querer ser conquistado. Ninguém é capaz de domar uma gata a mil com seus hormônios e sonhos. Ela agarra com suas garras e prende e solta e prende novamente num jogo de sedução que enlouquece pelas taras.
No cio, a gata tem cabeça e coração num acasalamento de libidos. A gata ronrona querendo ser ronronada e aprisiona querendo ser libertada de toda fantasia acumulada. Ela quer arranhar e ao mesmo tempo ter unhas presas em seus pontos fracos, despertando a feminilidade felina que a faz gritar e implorar pela continuidade daquelas cruzas de amor, que beiram a agressividade. Mesmo dominante, a gata no cio deixa o gato morder sua nuca. Entre uma e outra mordida, ela finalmente se entrega. Mas não por muito tempo, logo ela volta a si com um miado forte e o ataca sem piedade para só então voltar a se oferecer novamente. No cio, a gata quer acordar a vizinhança, quer fazer festança e jamais se cansa. Os gritos crescem com a flor se dando aos espinhos. Com a gata no cio, até a lua ovula.
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