Daniel Campos

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11/06/2008 - Não tenho medo da morte

Fiquei preocupado. O nosso ministro da música, Gilberto Gil, submeteu-se recentemente a uma cirurgia para tirar pólipos de uma corda vocal e a mídia já o especula sobre um possível câncer na garganta. Ele nega os boatos, dizendo que os pólipos eram benignos e está em recuperação. No entanto, depois de onze anos sem nos presentear com um disco de inéditas, Gil o faz falando de morte, da dor, do terror, de buraco negro, do oco do mundo. E sabe qual o nome da música central? "Não tenho medo da morte".

A música faz um alarde para a finitude humana. Ou seja, prega que um dia teremos fim. Segundo Gil, a vida é como um mandato político. Por mais que dure, um dia acaba. Isso tudo me levou a um estado alfa de preocupação, afinal, se uma das figuras mais poéticas e controversas de nosso tempo está dizendo que temos fim é porque algo está errado. Será que está jogando as toalhas? Onde estão os discursos que, no melhor estilo Roberto Carlos, diziam que os apaixonados se encontram no infinito, de que existe uma outra dimensão, algo mais complexo a ser vivido?

O que será que anda acontecendo com o nosso tropicalista? Por que a inspiração, depois de onze anos, vem a Gil para dizer justamente essas coisas frias e sombrias? Do sonho a realidade, com os pés fincados no chão... Ao contrário do sol da Bahia, da marmelada do Sítio do Pica-Pau Amarelo ou do Rio de Janeiro que continua lindo, o assunto da vez é o fim da vida. Será que a política fez mal para o autor dos versos "Drão, o amor da gente é como um grão, uma semente de ilusão, tem que morrer para germinar, plantar nalgum lugar, ressuscitar no chão, nossa semeadura".


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