02/02/2017 - Não alimente a rejeição
Quem nunca se sentiu rejeitado que atire a primeira pedra. Rejeitado pelos pais, pelos grupinhos na escola, pela garota ou pelo garoto popular do colégio, pelos colegas de trabalho, pelo chefe, pelos vizinhos, pelo time de futebol, de vôlei, de handball... são inúmeros os tipos de rejeição, mas a que causa maior estrago, certamente, envolve relações amorosas. Quando há amor no meio tudo ganha outra dimensão, inclusive, a rejeição, que pode destruir uma ou mais vidas.
Ser rejeitado por quem você ama dói das mais variadas formas, desde aquela dor calada até aquela que te coloca em completo desespero. Perdemos o chão e tudo perde a cor, o brilho, o sentido. Ser rejeitado traz depressão e ansiedade em diferentes níveis. A rejeição dá insônia, tira a fome e a vontade de viver, leva ao álcool e às drogas. Muitos casos de suicídio, e crimes passionais, são motivados por uma rejeição.
Não é exagero dizer que ser rejeitado é ser colocado para morrer. Isso porque a rejeição mexe com o nosso primitivo, acordando, da pior maneira, o nosso instinto de sobrevivência. Na natureza, se um filhote de pássaro for abandonado no ninho, fatalmente morrerá de fome. Se um dos integrantes da ninhada for rejeitado, morrerá isolado. E isso não é problema de criança. Já adulto, se um animal for rejeitado pelo líder do bando, ele dificilmente sobreviverá sozinho. Mesmo o leão, um dos mais fortes e corajosos animais, se rejeitado não se torna rei.
Quando recém-nascidos, nós, seres-humanos, se formos rejeitados por nossa mãe, que é fonte, entre outros cuidados, de alimento e calor, estamos fadados à morte se não pudermos contar com mais ninguém. Tanto que o colo, até hoje, é símbolo de aceitação. Por isso, quando estamos tristes pedimos colo, onde nos sentimos protegidos, amados, parte de outro alguém.
Falando de amor, quando alguém se sente rejeitado todas essas ameaças de sobrevivência são despertadas como memórias inconscientes. Por isso, tantos medos, dores, aflições são jogados em nosso corpo, que chega a tremer, empalidecer, suar frio... e como é difícil lidar com essa enxurrada emocional. Se sentir rejeitado é se sentir em risco. Por isso, a sensação de que vamos morrer se aquela pessoa não se ligar a nós ou se desligar de nós.
E não é necessário que a pessoa que você ame diga com todas as palavras que te rejeita para você ter esse desarranjo todo. A rejeição é sentida, não precisa ser falada. É uma frequência avassaladora, fácil de ser identificada como desprezo, descaso, recusa, negação. Materializando essa energia, a pessoa que você ama se torna fria com você, não te dá a devida atenção, ignora seus planos, não te olha do mesmo jeito, começa a fazer sozinha coisas que antes fazia com você, está mais ausente do que presente, não corresponde ao seu afeto, carinho, amor...
E quando percebemos os primeiros sinais dessa rejeição, cometemos um grande erro. Tentamos fazer mais e mais para agradar, chamar atenção, forçar uma determinada situação de proximidade, de união, de prazer. No desarvoramento de fazer de um tudo para transformar rejeição em aceitação, passamos por cima de princípios e valores, indo além dos nossos limites e, principalmente, do necessário. Enfim, sem pensar em mais nada, nos rebaixamos na tentativa de reconquistar, satisfazer o outro. O pior é que quanto mais damos mais ignorados somos. É como se nossa luta, por mais intensa que seja, não fizesse efeito. E quanto mais lutamos mais nos consumimos. Afinal, reagimos da forma errada, alimentando essa rejeição.
Esquecemos de nós, ignoramos o que somos, nos desvalorizamos na ânsia de não sermos rejeitados. Quando a luz amarela acender indicando essa energia de rejeição, temos de olhar primeiramente para nós mesmos. Temos de parar tudo e pensar, refletir, agir no sentido de nos fortalecer, pois essas ondas de rejeição quando não combatidas alimentam nossa carência, nossa insegurança, nossa desconfiança... desequilibrando-nos totalmente.
Quando nos sentimos rejeitados é porque não estamos bem conosco. Nossa autoestima está enfraquecida, nosso amor próprio está doente. Algo de errado há, com certeza, pois o outro nos reflete. Então, se alguém nos rejeita e isso nos afeta é porque nós já estamos nos rejeitando.
Podem rejeitar carvão, mas quem é que rejeita diamantes? Podem rejeitar lagartas, mas dificilmente rejeitam borboletas. Podem rejeitar grão de areia, mas com certeza não rejeitam pérolas. Podem rejeitar espinhos, mas jamais pétalas. Pense: você está, para si mesmo, sendo carvão ou diamante, lagarta ou borboleta, grãos de areia ou pérolas, espinhos ou pétalas?
Precisamos, acima de qualquer coisa, cuidar de nós mesmos. Precisamos nos dar valor, investir em nosso potencial, despertar o nosso melhor, tratar com a devida importância nossas enfermidades emocionais. Você não conseguirá agradar ninguém se não se agradar. Não conseguirá chegar a alguém se não tiver chegado a você mesmo. Não conseguirá amar ninguém sem antes se amar.
Ninguém é obrigado a te aceitar. Rejeitar é um problema exclusivamente do outro. Só que quando essa rejeição te afeta você precisa se reequilibrar. Pois, se você está bem com você mesmo, feliz, pleno, realizado, ao sentir que alguém te despreza saberá imediatamente que aquela pessoa não te merece, cortando assim os efeitos dessas ondas negativas.
Não deixe de amar quem te rejeita, amando-se em primeiro lugar. Assim, o fato de ser rejeitado não te causará sofrimento, mas a necessidade de seguir adiante mesmo sem aquela pessoa que te despreza. Isso não é impossível, basta você colocar em sua escala de prioridades, a necessidade de evolução acima do instinto de sobrevivência.
Afinal, cá entre nós, sobreviver é muito pouco. Precisamos viver, amando e evoluindo.
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