Daniel Campos

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16/07/2014 - Na hora do adeus

Quando eu morrer, conservem meus textos. Esqueçam-se da carne, dos ossos, das minhas feições, atentem-se somente para a minha obra poética. Não guardem fotografias, guardem em seus porta-retratos meus versos. Pois nada me identifica mais do que minha poesia. Esqueçam-se do meu rosto, tenham-me apenas como palavras. Um conjunto de palavras de amor. Sim, porque mais do que homem, mais do que jornalista, mais do que filho, fui amor. E só a minha obra é capaz de retratar com fidelidade o que fui. Portanto, se alguém quiser lembrar-se de mim, chorar ou suspirar pelo que fui, que seja por meio do que deixei escrito. O meu legado é o meu texto. Mais do que as linhas das minhas mãos, o que me traduz são as linhas da minha escrita. É meu coração que está impresso nesses títulos. É tudo o que eu fui e o que eu quis ser que está aqui nesses poemas e prosas. Não há um livro que conte a minha história, mas há romances que falam tudo de mim. Porque eu vivi para amar. Nasci, cresci e morri amando demais. Tive a sina de ser um apaixonado para além de seu tempo. E todas as dores e delícias dessa missão que talvez tenha menos dias do que fora previsto estão contidas em textos. Meus sentimentos serão imortais graças a essas palavras. Com toda licença poética que me cabe, amei em palavras. Não chorem sobre meu corpo, mas sobre minha poesia. Ela sim merece todos os méritos e todo o amor que queiram ainda me doar pós-morte. Não velem meu corpo, ateiem logo fogo em mim numa cremação às escondidas ou joguem pás de terra vermelha sobre minha carcaça num sepultamento rápido, mas dediquem o tempo que queiram estar comigo lendo o que deixei. Eu vou permanecer vivo em cada sílaba. E você vai me sentir – e vai sentir todo o meu sonho e todo o meu sofrimento – mergulhando em minhas palavras. Eu tenho poesia correndo em minhas artérias, irrigando meus tecidos, explodindo em meus neurônios como combustível de paixão. Tenho poesia saindo pelas minhas mãos. Tenho poesia perfumando a minha pele. Tenho poesia suando em minhas horas de aflição ou de prazer. Tenho poesia na minha língua, no céu da minha boca, nos meus lábios. Tenho poesia colorindo meus olhos. Eu sou poesia beijando as mãos de uma mulher ou indo pra cama com ela. Eu sou poesia que traz conforto e entendimento para o que não se explica. Eu sou poesia que faísca. Eu sou poesia que troveja. Eu sou poesia que respira. Eu sou poesia que dói, que cala, que suplica. Eu sou poesia sem vergonha de ficar de joelhos para se humilhar pelo amor que acredito. Eu sou poesia em todas as horas, de todas as formas, com uma verdade e uma intensidade que morte alguma irá roubar de mim. Portanto, se quiserem saber quem eu fui leiam-me. Nas horas de saudade, leiam-me. Nas horas de revolta, leiam-me. Nas horas que quiserem me pedir desculpa, leiam-me. Nas horas que minha lembrança for se perdendo ou ficando mais nítida, leiam-me. Eu vou, mas meus textos ficam. Não quero orações, velas, flores, quero apenas que me leiam. Leiam-me e assim tornem-me vivo outra vez. Não questionem se foi morte natural, encomendada ou suicídio, apenas leiam-me. Não tenham remorsos ou arrependimentos pelo que fizeram ou deixaram de fazer, apenas leiam-me. Não se lembrem da forma como morri, mas da maneira como vivi: e vivi completamente, intensamente e desesperadamente apaixonado, amando poeticamente como provam todas as poesias que são o testamento desse amor puro e infinito.


Comentários

16/07/2014, por Rafaela Almeida:

To Malzaça com sua DOR :( FORÇA

16/07/2014, por Luana T:

E eu achei que os homens que tinham coragem de se matar por amor tinham sido extintos. Acho loucura e bonito na mesma hora, mas a poesia é profunda e maravilhosa.

16/07/2014, por Carol Ribeiro:

Que isso???????????????????????

17/07/2014, por Ana Rosa Teixeira:

Que declaração mais linda


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