20/02/2011 - Mudança de horário
O texto saiu atrasado porque fiz questão de esperar pelo momento exato da mudança de horário. E não o fiz somente para dar adeus e comemorar o fim do relógio de verão que nos fazia acordar no escuro antes mesmo do concerto dos pássaros e trocava a luz das velas no jantar pela luz nada romântica do sol. À meia-noite pude tomar parte da magia de mudar o tempo, de voltar ao passado, de brincar de Deus.
Voltar os ponteiros do relógio em uma hora e poder viver novamente e de forma diferente aqueles últimos sessenta minutos é algo que mexe com dois mundos: o imaginário e o real.
O ser humano, ao longo dos milênios de sua existência, sempre foi obstinado por um desejo: navegar no tempo. O sonho de viajar a partir de uma máquina do tempo povoou a nossa literatura. No entanto, as únicas viagens possíveis nesse sentido se dão por meio de pensamentos e fugas de memória. Com o excesso de trabalho cerebral, típico das sociedades capitalistas, viagens desse tipo têm sido cada vez mais raras.
Falta tempo para navegar pelo tempo. Ao contrário de desafiar, homens e mulheres se rendem ao tempo e aos temporais impostos por relógios e calendários.
Viver essa troca de horário é navegar como um pirata, em direção contrária à correnteza de segundos e levando os ponteiros à prancha. O fato de atrasar o relógio em uma hora nos permite não errar mais os mesmos erros, sentir o mesmo sabor por mais uma vez, fazer dois corpos ocuparem não só o mesmo lugar no espaço, mas também o mesmo horário por duas vezes no tempo.
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