13/04/2010 - Morro do Bumba
Perigosamente, há um Morro do Bumba dentro de cada um de nós. Um morro que pulsa. Ao longo dos anos, amontoamos várias camadas de lixo em nosso coração. Quantas coisas passadas, descartáveis, sem utilidade que vamos fazendo questão de guardar. Mesmo sem precisão, guardamo-nos. De mágoas tóxicas a sonhos não-renováveis, de passagens orgânicas a desejos recicláveis, tudo se mistura enquanto vai sendo abarrotado em condições precárias de segurança, como num imenso aterro sanitário.
Porém, chega um dia em que tudo desaba. Sem avisos, emoções são soterradas, lembranças morrem, sentimentos sofrem e algumas saudades sobrevivem bravamente. Quando esse desabamento acontece, num primeiro momento, tudo se resume a dor, medo e choro. O cérebro se encarrega de nos infestar de pensamentos e imagens nada agradáveis. A impressão que se tem é que não sobrou nada. Mas sempre sobra algo debaixo dos escombros. E por dias a fio o coração é revirado, escavado, virado de pernas para o ar.
Os dias passam e essa matéria instável que forma o coração novamente se assenta. A paisagem começa a ser reconstruída sem levar em conta se aquele chão é feito de lixo ou não. São muitas esperanças desabrigadas. Além do mais, dores pessoais não podem ficar muito tempo em abrigos públicos. Assim, mesmo com o risco da tragédia se repetir, as paixões voltam a invadir aquele morro, construindo seus barracos de ilusão. E como não há outro jeito, nosso eu volta a depositar ali seu lixo emocional, sentimental, psicológico...
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