14/10/2010 - Mina San José
Se eu fosse um daqueles mineiros enterrados a mais de 700 metros num deserto chileno, longe de celulares e chefes, longe de computadores e telejornais, longe de políticos e politicagens, eu, pasme você, teria optado por ficar no mundo subterrâneo. Viveria o resto dos meus dias debaixo da terra, perdendo de uma vez por todas as noções de tempo e espaço. Entre o céu e o inferno não me importaria em ficar perto dos demônios. Afinal, abraçado por tamanha escuridão, eu, dentro em breve, também viraria uma criatura das sombras.
O ar me falta só de me imaginar entrando naquela cápsula minúscula e claustrofóbica subindo pelo ventre das rochas. Eu que fujo dos elevadores não agüentaria essa viagem de clausura e sufocamento. Preferiria ficar lá embaixo mesmo. Não teria presidente, sacerdote ou médico que me convencesse a subir. Por direito e força, transformaria aquele abrigo no meu mundo particular. Mas atenção, faria um único e egoísta pedido: que aquela cápsula batizada de fênix trouxesse ao meu encontro a mulher amada.
E que ela não tenha pudor algum em passar da luz para as sombras sem perder seu quê de anjo.
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