23/11/2010 - Milho, milharal
Há algo mais intrigante do que um milharal? Devido a sua carga dramática intrínseca e as tramas naturais da paisagem, no que diz respeito à cor, espaço, textura, caminhos, sombras, o milharal ilustra histórias de amores proibidos, poesias paradisíacas e filmes de suspense e terror. Impossível não se lembrar dos famosos espantalhos que ganham vida por algum feitiço, encanto ou magia. Até mesmo os discos voadores fazem aqueles sinais misteriosos no corpo do milharal. É um dos palcos principais de O Mágico de Oz.
Eu já participei do plantio, da adubação e da colheita do milho. É uma experiência única. Ver as plantas crescendo, ganhando viço e coloração do dia para a noite. E dos pés esguios vão nascendo folhas largas e espigas. Deus foi cuidadoso até mesmo ao dar cabelo às espigas, como se fossem flores indicando o momento certo da colheita. É coisa de rara beleza e grande inquietude. As folhas ásperas, que chegam a cortar a pele e dar coceira em quem se atreve a andar por aquelas ruas apertadas da cidade do milho.
Por tudo isso, o milharal me atrai e seduz entre lembranças e perspectivas. Sinto saudade de sentir o cheiro daquelas espigas madurando aos olhos dos corvos. Sinto saudade de desaparecer naquela roça como se fosse tragado pelo mundo. Sinto saudade de caminhar por suas fileiras junto daquele que me ensinou a andar sem me machucar. E tenho vontade de plantar um milharal só para sentir, o gosto e o sabor, que são duas coisas diferentes, de raspar por mais uma vez que seja uma panela de curau.
E que depois dessa panela viessem pamonhas, espigas cozidas, bolos cremosos, polentas... Enfim, comidas que tentam, de uma forma ou de outra, apoderar-se dos encantos, dos feitiços e das magias contidas em um milharal.
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