Daniel Campos

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30/01/2013 - Milharada

Um grão de milho. Um pé de milho. Um milharal. Um corvo. Uma arrevoada de corvos. Um céu negro de corvos. Um espantalho. Um espantalho assassino. Um filme de terror. Uma espiga de milho. Uma saca de milho. Um celeiro. Mãos quebrando espigas de milho. Mãos separando o milho da palha. Mãos debulhando milho. Mãos, animais e máquinas em torno do milho. Milho na tulha. Milho no prato. Milho na bolsa de valores. Milho virando fubá. Milho virando polenta. Milho virando bolo. Milho virando pamonha. Milho virando sustento. Milho virando transformação. Milho virando pipoca. Milho em todos os estados físicos e emocionais. Noivas de milho caminham fagueiras pelas ruas dos milharais.

O milho que cabia na palma da mão toma conta do terreno, enche as vistas, redesenha o horizonte num verde que vira amarelo com o passar do tempo. O milho dos índios, dos deuses, dos bichos. O milho nas receitas dos solteiros e dos casais. São corpos se ferindo e, se coçando e se despindo no meio do milharal. Por entre aqueles grãos, romances e traições. Como que num surto de magia, pés de milho andam pra lá e pra cá, dançam ao vento com folhas agarrando as cinturas finas das hastes, passos marcam uma terra cor de araçá. E quando o caipira olha para a noite alta, debruça no peito da janela que dá para a plantação, vê de uma espiga nascer uma lua que atiça essa febre amarela.


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